A resiliência tem sido, nas últimas quatro décadas, um termo muito utilizado em diversas ciências. Superestimada na segunda modernidade, ocupa um lugar de destaque no mundo corporativo, entre as soft skills desejadas pelos heads, como um adjetivo “positivo”. Mesmo não havendo um conceito unificado sobre ela, há entretanto, um consenso de que a palavra tem origem nas ciências exatas, para descrever a resistência dos materiais. Neste sentido “é uma propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à FORMA ORIGINAL após terem sido submetidos a uma deformação metálica”. Ainda assim, refere-se à capacidade de um material de absorver choques ou impactos sem sofrer DEFORMAÇÕES PERMANENTES.
Num sentido figurado simples, a resiliência pode ser definida como um retorno rápido ao ESTADO ORIGINAL após sofrer grande estresse.
A mim, há limitações quanto ao uso da palavra resiliência como descrição de um comportamento humano: Há possibilidade de passarmos ilesos aos acontecimentos hostis e estressantes?
Uma célebre frase pautada nas neurociências sociais e portanto, essa sim, demasiadamente humana, diz: “Ninguém sai ileso de ninguém.” Em tal condição não haveria a possibilidade de escolha em ser resiliente. Ser resiliente então, se faz uma possibilidade nula.
Talvez, e só talvez, o termo resiliência adaptativa, possa ser mais realista, ainda que em sentido figurado, à realidade humana, e configuraria a capacidade de absorver uma perturbação e EVOLUIR. Nessa perspectiva, vários autores concluíram que a capacidade de resiliência de colaboradores dentro de uma organização é portanto um constructo que engloba comportamentos adaptativos, de aprendizagem e de mobilização eficaz de conexões e recursos.
Nessa perspectiva me parece haver um ponto, se não todo ele, paradoxo à resiliência, mas que propõe um solo mais fértil para desenvolvimento de relações saudáveis, ambientes mais produtivos, lideranças mais conscientes do seu papel, indivíduos mais conscientes de si.
Ainda nessa visão, uma vez que assumo a minha NÃO RESILIÊNCIA, também assumo que NÃO estou livre do resultado transformador do outro em mim, assim como em minhas relações o outro não está livre do resultado transformador que produzo nele, da mesma forma as organizações a seus colaboradores e vice-versa. Quanto a essa consciência do NÃO RESILIENTE, há uma enorme janela que se abre para provocar e produzir ambientes enriquecidos de experiências, diversidade em diálogos e responsabilidade mútua afim de que o indivíduo ou as organizações fomentem ambientes capazes de ofertar possibilidade de transformações relevantes, sustentáveis e de impacto em meio a situações adversas.